Quase 50% dos lançamentos comerciais em SP e no RJ serão certificados. Em Curitiba, serão quase 80%.
O Brasil já está entre os líderes do mercado de construções planejadas para preservar o meio ambiente.
É cada vez maior o número de
empreendimentos imobiliários com selos verdes no Brasil. Neste ano,
quase metade dos lançamentos comerciais em São Paulo e no Rio de Janeiro
serão certificados ambientalmente. Em Curitiba, serão quase 80%.
“São empreendedores, incorporadoras,
investidores, que querem construir um prédio com algum diferencial no
mercado”, diz Cristina Umetsu, gerente de projetos sustentáveis.
“Eles têm conseguido reduzir em torno de
30% o consumo de energia dentro da edificação, de 30 a 50% o consumo de
água, e conseguem reduzir também em cerca de 60% a 80% a gestão de
resíduos, que são gerados durante todo o empreendimento”, afirma Marcos
Casado, gerente técnico da GBC Brasil.
Casado representa no Brasil a maior e
mais antiga certificação ambiental de construções. O selo LEED foi
criado nos Estados Unidos em 1999 e já é usado em 139 países. O Brasil,
com 630 empreendimentos registrados, aparece em quarto lugar no ranking
de países certificados pelo LEED, atrás apenas de Estados Unidos
(42.964), China (1067) e Emirados Árabes (794).
Em um edifício certificado com o selo
LEED em São Paulo, medidas simples como bicicletários ou vagas
reservadas na garagem para carros mais eficientes contam pontos, mas o
que pesa para valer na certificação são os sistemas inteligentes, que
permitem a redução de 30% no consumo de energia e de 40% no de água.
“O mercado consumidor está cada vez mais
exigindo isso, as empresas brasileiras e internacionais estão buscando
prédios com esse tipo de concepção e com esse tipo de eficiência”, diz
Ivan Chara, gerente executivo do Previ.
Outra opção é a certificação pelo selo
Aqua. Inspirado em um modelo francês e adaptado para a realidade
brasileira, foi concedido a mais de 160 projetos no país. “São 14
categorias de preocupação ambiental, que vão desde a escolha do terreno
com os produtos, sistemas construtivos, até com o gerenciamento de
resíduos, com a gestão de energia, a gestão de água”, afirma Bruno
Casagrande, executivo responsável pelo desenvolvimento de negócios da
Fundação Vanzolini.
Para economizar energia, um edifício
certificado pelo Aqua em São Paulo instalou quase 700 persianas
automáticas que regulam a entrada de luz e de calor. Para subir ou
descer de elevador, é preciso esperar a orientação do computador, que
informa qual o elevador mais próximo que o levará ao andar desejado.
Em todos os prédios certificados, a água
da chuva é recurso valioso. “Isso gera hoje uma economia em torno de R$
20 mil a R$ 25 mil por mês. A previsão de quando tiver 100% ocupado é
de gerar uma economia para o condomínio de R$ 150 mil na conta de água”,
diz Luciano Sérgio Amaral Alves, diretor.
Quem disse, porém, que só prédio
sofisticado pode ter selo verde? Já é possível certificar ambientalmente
imóveis em comunidades de baixa renda no Brasil, o que já está
acontecendo em Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo.
Para obter a certificação, é preciso
seguir 19 recomendações obrigatórias. Foram essas obrigações que
nortearam a construção de novos blocos de apartamentos. O selo Casa
Azul, da Caixa Econômica Federal, começa a ganhar escala nos
empreendimentos populares financiados pelo governo.
“A certificação Selo Azul da Caixa se
diferencia das outras certificações principalmente pelas práticas
sociais. Os próprios moradores locais têm educação ambiental, são
levados para a preservação dos recursos naturais”, diz Amilton Degani,
da Ductor Implantação de Projetos.
Do lado de fora, áreas verdes deixam o
solo permeável para a água de chuva, há coleta seletiva de resíduos e
playground com piso feito de borracha de pneu, mais seguro e higiênico
para as crianças. Tudo isso pesou bem pouco no custo do apartamento,
menos de 1% do valor total de cada unidade.
A técnica de enfermagem Fátima Dias
Cardoso mora com marido e quatro filhos em um apartamento de 50 metros
quadrados. Vive hoje com mais conforto e economia do que no imóvel
anterior. “Eu pagava mais, cerca de R$ 100 a R$ 120 de luz. Aqui vem em
torno de R$ 38, R$ 37 de luz. Quanto à água, então, nem se fala. Veio
uma taxa super baixa”, afirma.
Todos os apartamentos têm equipamentos
que racionalizam o consumo de água, aquecedores com selo Procel letra
"A" e janelas onde a luz solar e a ventilação natural tornam o ambiente
agradável, sem que se gaste mais por isso.
Marcos Casado, de tanto trabalhar com
selo verde, acabou construindo a casa onde mora em Santo André, na
Grande São Paulo, seguindo à risca boa parte das soluções mostradas
nesta reportagem: coleta de água de chuva no quintal, luz natural que
invade todos os ambientes.
Para onde se olha, está lá uma inovação
em favor da qualidade de vida e do bolso. “Está na hora de começar a
passar da teoria pra prática. É um objetivo que a gente tem aí,
preservando a questão do futuro das próximas gerações”, diz.
Vídeo da reportágem no link abaixo!
Publicado no: Jornal da Globo, de 08/01/2013, por André Trigueiro
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